Baixos e altos
- Dryele Silva
- 15 de fev. de 2018
- 1 min de leitura
— Aos 5 alguém me deu um copo com suco e eu, inocente, bebi. Alisaram meu corpo e depois eu não vi mais nada.
Lembro-me bem que, aos 9, aquela chuva caía sem dó nem piedade e doía quando tocava meu corpo. Era gelada e eu, tão indefesa e sem proteção, só pedia para que ela cessasse; ela não cessava, o que me deixava triste e enfurecida.
Eu não queria estar ali, mas também não suportava ver tanta coisa estranha na minha antiga casa. Naquele momento eu poderia estar numa cama com uma coberta me aquecendo, mas foi meu papelão gelado e úmido que me suportou. Eu não seria capaz de sobreviver num ambiente cheio das mais diferentes drogas e orgias. Eu não queria estar debaixo daquela tempestade, mas também não queria estar sob um teto enfumaçado, com odor de bebidas álcoolicas, pessoas diferentes o tempo todo e uns caras agarrando minha mãe. Por isso fugi de lá. Tudo bem que ninguém sentiu minha falta. Na verdade acho que nunca nem sentiram que eu estava ali, exceto quando me davam suco.
Durante minha vida, pedi ajuda para muita gente, mas quem iria ouvir uma adolescente que vivia suja, com a aparência julgada como "nojenta" pela sociedade?
Eu sempre pensava: "quem sabe um dia, Aquele lá de cima me dê uma luz" e Ele me deu um Sol — contou, Bárbara, durante uma entrevista, sentada na cadeira da presidência de sua empresa no auge dos seus 56 anos de idade.
[ficção]

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